Demanda firme leva a aumento da importação de sêmen bovino

Alexandre Inácio
O aumento da demanda global por carne bovina nos últimos anos – ainda que 2009 tenha sido um ano mais fraco por causa da crise – e a internacionalização dos frigoríficos estão fazendo com que o Brasil, dono do maior rebanho comercial de gado de corte do mundo, tenha que importar sêmen bovino para atender o crescimento do mercado de genética.

No ano passado, a venda de sêmen bovino em todo o país cresceu 11,7% e totalizou 9,16 milhões de doses. Desse total, 42,2% vieram de outros países. Esse é a maior participação relativa que o produto importado alcança desde 2000, porém, em termos absolutos é o maior volume já comprado pelo Brasil.

De tudo o que foi vendido no ano passado, a parcela destinada à pecuária de corte foi de 56,9%. Os 43,1% restantes foram para a pecuária leiteira. Assim, foram comercializadas no Brasil em 2009 pouco mais de 5,2 milhões de doses para a pecuária de corte, das quais 21,1% foram importadas.

Para se ter uma ideia dessa evolução, em 2005, quando a venda para a pecuária de corte somou 3,91 milhões de unidades, apenas 6,6% vieram de outros países.

“”Há uma redescoberta do cruzamento industrial [técnica que cruza o gado zebuíno com o europeu para obtenção das melhores características de cada espécie, com o objetivo de produzir animais para abate] no Brasil. Os frigoríficos que condenaram a técnica no passado perceberam o erro e hoje valorizam esses animais, principalmente depois que os grandes grupos foram para o mercado internacional””, afirma Lino Rodrigues Filho, presidente da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia).

Com base zebuína, o rebanho nacional não tem número elevado de animais de origem europeia – especialmente das raças Angus e Red Angus – com as avaliações necessárias para garantir a qualidade mínimas de reprodução. Por esse motivo, é mais fácil para as centrais de inseminação importarem o sêmen de outros países do que iniciar um processo de seleção e análise desses animais que, além de caro também consome tempo.

Dessas duas raças europeias mais presentes no Brasil foram vendidas no ano passado 1,45 milhão de doses, sendo que 59% foram importadas. Em 2005, a venda das mesmas raças totalizou 503,62 mil doses, sendo que a parcela das importadas foi de apenas 32,9%.

Na pecuária leiteira a situação sempre foi diferente. Historicamente, há um predomínio de sêmen importado para inseminação artificial do rebanho de leite do Brasil. Em 2005, por exemplo, mais da metade (54,2%) do material genético comercializado no país já vinha de outros países. Em 2009, esse percentual chegou a expressivos 70% das 3,94 milhões de doses vendidas para o setor leiteiro nacional.

Mas não foi apenas a mudança nas características do mercado e da baixa disponibilidade de animais no Brasil que levaram a uma importação tão grande. Na opinião de Rodrigues, a crise internacional e a desvalorização do dólar frente ao real foram outros dois fatores que estimularam o aumento das compras de outros países. “”A crise fez muitos países exportadores reduzirem os preços para desovar seus estoques. Além disso, os preços que caíram em dólar ficaram ainda mais baixos com a desvalorização da moeda americana””, afirma.

Mesmo com uma grande participação de sêmen importado no comércio doméstico, o Brasil quer reforçar sua atuação no mercado externo. Segundo Rodrigues, o Ministério da Agricultura já acertou os últimos detalhes de um protocolo sanitário com a Índia que permitirá a venda e também a compra de material genético entre os dois países. “”Há dez dias estive no ministério e o protocolo estava praticamente pronto. A Índia é um mercado que consome 30 milhões de doses por ano e queremos participar dele””, disse Rodrigues.

O maior interesse dos indianos e outros potenciais compradores é pelo sêmen de gir-leiteiro, raça bastante adaptada a regiões quentes e tropicais. É por esse motivo que está sendo estruturado um plano junto ao ministério para implementar a genética bovina do Brasil em pelo menos cinco países. Além da Índia, estão na lista de prioridades a Austrália, Rússia, China e África do Sul.
Com vendas externas de apenas 132 mil doses no ano passado, volume que representou uma queda de 46%, as centrais de inseminação já têm uma capacidade instalada para gerar um excedente exportável de pelo menos 3 milhões de doses.
Fonte: Valor Econômico