A carne não é fraca…

Roberto Rodrigues
Um dos dados demográficos mais repetidos é o de que em 2050 teremos uma população planetária superior a 9 bilhões de pessoas e isso, de acordo com a FAO, exigirá um aumento de 70% na produção agropecuária, para fornecer alimentos, fibras e energia. Também é bastante comentado o fato de que está chegando o momento em que as populações urbanas, pela primeira vez na história do mundo, passam a ser mais numerosas que as rurais, isto é, cada vez menos gente deverá produzir para cada vez mais gente.

E outra questão demográfica é a mudança da pirâmide etária: com o aumento da expectativa de vida e o controle da natalidade efetuado voluntariamente pelas famílias, teremos crescentemente mais idosos e menos crianças.

Todos esses temas interferem profundamente na atividade agropecuária global, estabelecendo o grande debate sobre como produzir mais e com sustentabilidade sem destruir recursos naturais.

Claro que a resposta está na tecnologia, e os aumentos de produtividade garantirão o abastecimento, sem danos.

Mas há um ponto muito interessante em toda essa discussão, relativo às mudanças de hábitos alimentares: o aumento da população mais idosa e do poder aquisitivo dos países em desenvolvimento indica uma maior demanda por proteínas, frutas e legumes, em detrimento de carboidratos.

É óbvio que quem quiser vender os seus produtos deve produzir o que os consumidores quiserem. Portanto, precisamos produzir carnes. Temos capacidade para isso?
Sim, enorme, e os números são expressivos. Desde 1990 nossa produção cresceu bastante: 8,6% ao ano para frangos, 5,9% anuais para suínos, 3,2% ao ano para bovinos.

Somos competitivos em todas as carnes. E, na bovina, levamos uma vantagem enorme sobre os países do hemisfério Norte: nosso boi é criado a pasto o ano todo, porque não temos o inverno gelado de lá, que obriga a estabular o gado por meses.

Previsões do Ministério da Agricultura indicam que, em 2010, exportaremos 6 milhões de toneladas de carne de frango, 3 milhões de carne bovina e 830 mil toneladas de carne suína.

Se essas previsões se confirmarem, o Brasil ainda será o maior exportador mundial de carne bovina, com 42,7% de todo o comércio, e de carne de frango, com 70%, e deverá estar no 3º lugar em carne suína, com 16%.

Mas há uma sombra no horizonte desse setor importantíssimo de nossa atividade rural. Pesa sobre ele a notícia de que a pecuária de corte emite muito metano, por meio das eructações. No caso brasileiro, cerca de 35% das emissões de metano viriam da pecuária bovina. E o metano é bem mais danoso que o CO2, para efeito de aquecimento global. No entanto, para facilitar as contas, os especialistas convertem todos os gases de efeito estufa em CO2 equivalente.

Estudos recentes indicam que, no Brasil, onde temos pouco mais de uma cabeça por hectare, os bovinos emitem 60,5 kg de metano e 54 kg de CO2 por hectare/ano, ou 1,3 tonelada em equivalente CO2/hectare/ano. Por outro lado, há estimativas de que um hectare de pastagem sequestre 3,4 toneladas em equivalente CO2/hectare/ano. Portanto, é possível concluir que, no fim das contas, comparando as emissões de CO2 pelos bovinos e o que é retido pelas pastagens, o saldo é positivo.

Há ainda muito o que estudar e muito a fazer para melhorar esse saldo, mas a bovinocultura já é um setor capaz de avançar sustentavelmente.
Fonte: Folha de São Paulo